Aluga-se este ponto — Parte II

Gabi Blenda
2 min readJun 14, 2022

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Photo by Ilya Kozhukhov on Unsplash

Começa aqui.

Parece bom estar viva para reparar nisso tudo que existe à minha volta. Notar o microcosmos de viver — seja num bairro popular de Salvador, como é o meu caso, seja onde for.

De alguma forma, não dá para viver de aluguel na vida.

Não dá para só passar por ali.
Não dá para não fazer morada
não se apropriar do imóvel, do espaço-tempo
não ocupar aquele território do existir.
Não dá para viver como se não houvesse importância
como se não fosse um milagre existir.
Tanta morte, genocídio, fobias sociais, guerras civis, vírus letais
e a gente continua aqui, apesar das estatísticas
contra todas as probabilidades da circunstância.
Não dá para morar de aluguel na vida.
Nem dividir em várias parcelas reencarnatórias.

você acredita no depois, prefiro agora

Vamos pintar as paredes de vermelho-sangue
colocar carpete felpudo rosa
fazer da vida uma decoração cafona
receber os amigos
dar festa até os vizinhos denunciarem na polícia
comer aquilo que é gostoso
permitir aquilo que dá prazer.

Eu cansei.
Não quero saber de mais nada além ou aquém
do que me cabe e do que me falta.

Não quero mais fazer contorcionismo, malabarismo, fingir-me equilibrista.

Na vida, escolho ser palhaça.
Escolho rir, depois de chorar.
Escolho morrer gozando.

Não dá para levar a vida como se não estivéssemos vivos.
Não dá para só passar.
Não dá para ficar sem circular afeto.
Não dá para fingir que amor e sexo não importam
porque eu preciso disso o tempo todo
e a vida fica bem mais colorida quando
enfeitada de desejo.

Só quero aquilo que é possível
porque fazer o possível já é difícil e desgastante.
Fazer o possível já é fazer muito.
Do impossível não quero nem conta.

Tudo envolve sacrifício e sufoco.
A incógnita da equação é encontrar quais dores valem a pena atravessar, apesar do prazo de validade e dos efeitos colaterais do existir.

Saber exatamente
o que se quer
quem se é
e o que faz bem
é uma sabedoria nível
mestre Yoda + monge tibetano + mestre dos magos + conselho jedi

Vamos avançar sem pressa
vamos caminhar o longo caminho
len-ta-men-te
como quem aprende a soletrar na escola.

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Gabi Blenda
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