feriado
você partiu meu coração, tantas vezes. embaralhou meus sentimentos e me deixou inexpressiva. escrever é meu barato e você é careta. agora vivo fases de abstinência. é verdade, eu deveria ter amadurecido. eu deveria parar com essa coisa de sentir medo.
mas é que eu conheço o perigo de frases como “eu não te amo”. embora você nunca tenha dito isso a mim. preferiu usar sua voz pro escárnio, gritando na minha cara “eu não sou feliz”. aquilo doeu mais que um tapa. preferiu falar como seria incrível morar sozinho, logo a mim, uma criança triste e solitária. eu conheço o perigo de não ouvir “eu te amo”.
medir palavras é um talento que te falta. mas tudo bem, porque toda a psicanálise é baseada na falta. e agora eu entendo Freud culpar os pais pelo comportamento da humanidade.
estou tentando ser uma pessoa melhor que você. não com mais dinheiro, mais diploma, mais status. estou tentando não me entregar a essa doença fodida do nosso DNA. tentando não deixar que as palavras machuquem mais que fogo. porque tem um posto de saúde atendendo emergências bem ao lado da nossa casa. mas eu não posso ir correndo pra terapia depois de escutar o que você me diz. eu tenho que marcar horário, anotar na agenda e esperar uma semana, torcendo pra que desta vez o chefe não peça um relatório no fim do expediente e me faça cancelar a única hora em que eu poderia desfazer o nó na minha garganta.
O que você faz quando não encontra o objeto perdido pela casa?
“Fulano, você pegou meu _________?”, se dividir o apartamento com alguém.
“Droga, onde eu deixei _______?”, caso more sozinho.
Eu ouço gritos, ameaças e sinto dor no peito, desejo que seja infarto, mas é só um coração partido.