Um conto (quase) erótico com um dentista.

Gabi Blenda
2 min readJul 14, 2019

--

Conferir o saldo no banco, a cada meia hora, não faz o dinheiro aparecer na conta num passe de mágica. Mas é isso que faço, desde que levantei da maca do dentista, onde eu estava com a boa aberta e um aparelho sugando minha saliva.

— Não vim preparada — foi minha resposta ao “doutor”, bonito demais para eu olhar por muito tempo sem ficar nevosa, quando me informou o valor de um canal.

De todos as cavidades do meu corpo, o dente podre era a única região que eu não desejava ser examinada.

Antes de entrar no consultório dele, passei por outra sala, deitei em outra cadeira odontológica — esse é o nome técnico da maca — , com outro sugador de saliva. A dentista era simpática; tentou animar o clima asséptico com uma musiquinha de balada. Pela expressão de seu rosto, eu sabia o que vinha pela frente.

— Você está com cara de más notícias.

— Mais ou menos — respondeu. Até agora procuro a parte amena da notícia “Precisamos abrir o seu dente.”.

Segundo ela, foi um milagre eu não ter sentido dor. Na verdade, dor eu sentia, de vez em quando. O caso é que faltava tempo quando “sobrava” grana para marcar a consulta; e agora que houve tempo para esperar por duas horas e meia o atendimento, não tenho o dinheiro para fazer o tratamento. Ironias da vida.

Saí do consultório com um curativo temporário (que eu não sei se dura até o almoço) e o lado esquerdo do rosto inchado, por efeito da anestesia. Eu me sentia com um litro de botox na cara e a boca do Steven Tyler.

Uma outra ironia: a saúde sempre parece ok, até você ir na checagem anual, o médico solicitar os exames de rotina e o resultado não sair como o esperado. “Inconclusivo. Vamos precisar fazer um raio-x para ter um diagnóstico com mais certeza.”

Quem me vê na rua mal sabe que, além de descabelada, também estou anestesiada e com um rombo na conta bancária maior do que no dente.

--

--

Gabi Blenda
Gabi Blenda

No responses yet