Um caso de amor literário
Eu parecia uma dessas pessoas que não conseguem superar o término da relação e aproveita qualquer gancho de um conversa para citar o ex.
Porque eu me sentia vivendo um romance tórrido durante a leitura desta obra que destrincha, ao longo de nove capítulos, todas as características e a estrutura de uma boa literatura.
Longe de mim dizer o que é bom ou ruim. Mas aquele livro que você não consegue desgrudar e quando termina a última folha sente um vazio que aparentemente nenhum outro preencherá: isso é literatura das boas.
Neste título o autor cita trechos de livros brasileiros e estrangeiros, mostrando a técnica utilizada por seus escritores para desenvolver aquelas histórias. É como voltar a ser criança, assistir o truque do mágico tirando o coelho da cartola e depois do show ser convidada a subir no palco, sentir de perto o veludo da cortina, as pupilas contraídas pela luz do refletor, aprender a usar a serra e cortar a assistente no meio, sem derramar uma gota de sangue.
Destaque para o capítulo que analisa a essência do personagem e o conflito da narrativa, onde Hamlet é o exemplo mais utilizado. A leitura dessa parte é como estar no divã: exposta, despida e consciente dos pecados.
Se o caro leitor é desses que preferem os fatos, o autor do livro é de Porto Alegre, responsável pela mais antiga e famosa oficina literária do Brasil, que se tornou curso de graduação e pós-graduação, com uma longa lista de alunos premiados nos concursos literários do país. Não que isso seja importante. Afinal, o momento histórico em que vivemos mostra, mais do que nunca, quanta coisa errada existe nas instituições que premiam as artes — o que é arte mesmo? Mas isso é discussão para outro texto. Inclusive, tem gente que fala melhor sobre isso do que eu.
Por aqui, só me resta dizer que este livro é altamente recomendado para casos de amor literário. Persistindo os sintomas, papel e caneta devem ser consultados.
Texto 4 de 15 do Desafio de escrita para a quarentena, lançado por Stefani Del Rio. Se quiser participar: clique aqui!
4º dia — Faça o prefácio do seu livro favorito sem dizer o nome dele