Toda manhã acorda com duas vontades

Fazer xixi e escrever.

Saio do quarto rumo ao banheiro. Miado de bom dia. Lembro de limpar a caixinha de areia do gato que mais bebe água no mundo. Toda manhã, dois potes vazios pra abastecer.

Dividir o único banheiro da casa com a família é ficar em pé diante a porta, cruzando as pernas e dando pulinhos, porque já tem alguém usando.

Quando muito insuportável, dá uma batidinha implorando preciso muito ir aí, pra ouvir como resposta é por isso que sua vó tinha penico em casa. Na verdade eram dois; um embaixo da cama, pra uso particular da matriarca e seu esposo, outro na área de serviço, pros desavisados — parentes e visitantes.

Ter um único banheiro em casa desenvolve habilidades que nenhum curso em Harvard ensina: Módulo Avançado em Argumentação & Sobrevivência.

Quando duas pessoas saem de diferentes cômodos, tomam a mesma direção e se encontram na porta do banheiro, a negociação começa:

- Número 1 ou número 2?

Veja bem, se um deles tem intestino preso, dá pra esperar.

Quando minha prima chega a oratória cai por terra, ela não faz xixi fora de casa e passa o dia segurando. A coitada já atravessa o portão da rua arreando as calças.

Igual ao gato, quando não suporta mais dois potes de água na bexiga. Ele passa entre minhas pernas e senta na caixinha, mesmo que eu esteja de cócoras com a pá rosa numa mão e o saco de lixo na outra. Eu que espere ele completar o serviço. Pra limpar de novo.