segunda a tarde com vinho
dos mesmos criadores de “hoje, só amanhã” vem a versão do “este ano, só no próximo”
abri o vinho guardado, numa segunda-feira à tarde, antes do almoço, minutos antes de entrar para a sessão de análise.
foi a primeira coisa que falei diante a Analista: acabei de tomar um vinho.
humm — ela me responde, como se também tivesse provado a mesma bebida que eu.
nada demais.
saí da sessão com as mesmas dúvidas de quando entrei. me servi de mais uma caneca, pois ainda não tenho taça.
para justificar os acontecimentos dos últimos meses, fez a numerologia do ano, para saber em qual lugar do ciclo estava.
estava no fim dos tempos. os astros anunciavam.
os baralhos de tarot confirmaram.
quais os planos, perguntou o gestor, logo após o aviso prévio.
não sei, respondi honestamente. agora estou apenas esperando que o próximo ano seja melhor.
e o que você vai fazer para ser melhor? — perguntou a amiga, disfarçada de analista.
estou na torcida. é tudo o que posso fazer neste momento da partida.
torcer.
será que você não está valorizando a perda mais do que os ganhos?
a pergunta que surge na sessão não abala a minha convicção.
a perda é indesviável.
feliz ano novo! — disse ela, levemente alcoolizada.