Prosa e poesia

Gabi Blenda
2 min readDec 13, 2019

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Talvez este seja o meu problema. Eu não me apaixono por pessoas, mas por livros. E ninguém nunca me disse as palavras certas, do jeito que gosto de ouvir. O único que chegou perto disso, fugiu. Conheceu outra garota, me deixou só, com as lembranças.

Estou no ônibus. O único lugar em que existo, entre um trajeto e outro. Os destinos não variam, é sempre casa ou trabalho. Mas tenho companhia: seguidores nas redes sociais; conversas no whatsapp; personagens no livro que trago na bolsa; minha mente, que nunca fica calada.

Eu tento fazer silêncio, mas quero gritar o tempo todo. Aí tenho medo de, no lugar do “bom dia”, um berro escape da minha boca. Deve ser por isso que minha garganta dói o tempo todo. Não é fácil conter os berros. Fico calada nos ambientes, para não assustar pessoas.

Eu queria dizer que todas elas estão erradas, e que os certos estão calados, observando o circo dos que sempre falam. Os estúpidos são sempre muito falantes. Andam com os bolsos das calças e os orifícios do corpo preenchidos com falsas verdades. Não se dão conta disso, pois estão muito ocupados em suas falas. E nenhuma dessas palavras me encanta.

Eu nem sabia que procurava alguém com um vocabulário que rimasse com o meu. Afinal, prefiro prosa a poesia. Semiótica, literatura, discurso, psicanálise, tudo o que gosto envolve palavras; são elas que dão conta de explicar as coisas. A “cura” só é possível através da verbalização. Significante e significado, tudo não passa de invenção. A vida humana é um eterno faz de conta.

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