Prato do dia
Acordei com cheiro de fumaça no quarto. Era meu pai acendendo espirais para espantar pernilongo. Ele quase me espanta de casa com tanta fumaça. Até o gato cheirava a queimado.
Fiquei enrolando na cama, como não fazia há um tempo. Desde setembro. Sei a data exata porque foi quando comecei a trabalhar numa campanha política. Não recomendo. É pior do que tomar injeção na bunda.
Vão te ligar meia noite pedindo para você fazer uma publicação, urgente. Vão te ligar uma da manhã pedindo para tirar aquela publicação, urgente. Vão te ligar meia hora depois porque consultaram o jurídico e está liberado, urgente.
É por isso que meu coração está batendo no ritmo de uma escola de samba. A respiração de quem correu uma maratona de São Silvestre, mesmo estando sentada. A chefe manda áudio às 12h57 porque não respondi a mensagem de 12h53. Eu estava fazendo o almoço.
Não cozinha o feijão. Não lava a louça. Não toma banho em paz. Não lava o cabelo. Tudo demora. A única urgência é atender a demanda do cliente, na hora exata em que deseja. O cliente fica lá satisfeito e eu aqui, com psicanálise.
Pera que o cliente mudou de ideia. Desfaz tudo aquilo que fez antes. Agora reconstrói. Ficou melhor do outro jeito, volta. O cliente mudou de ideia, de novo, urgente!