porque não sei o que fazer de mim
tenho medo é de mim
e não do outro
que o seu olhar sirva de espelho
me reflita
e eu encare minha própria sombra
me cegue em minha própria luz
assusta ser infinita
dentro de uma experiência finita
ser um lago sem fim
na trama da Vida
puxo puxo puxo o fio
e o fio não para de vir
já estou com a corda no pescoço
estou perdendo o controle
o controle é uma ilusão
estou perdendo a ilusão
de controle
e o que sombra?
que espaço tempo
que geografia
qual a geopolítica da pós-ilusão?
tenho medo
que o olhar-espelho do outro
me reflita
me faça ver quem sou
sem escapatória
sem poder me perder de vista
me olhar
é não poder escapar
é não poder se perder
é não poder derrapar
sair da estrada e morrer no mar, no mar
ser é um saco
mas é temporário
em vez de chutar o balde
aproveitar as delícias
agarro-me infinita na dor
me assusta ser eu
me assusta sentir
me assusta quem sou
por isso vivo tentando mudar
e nunca consigo
nunca consigo fugir de mim
parece que sou o meu destino
e se o fim já está por cá
o que me resta
o que resta além depois da morte do não haver lugar a chegar
algo precisa morrer em vida
pra vida começar
algo simbólico precisa
enterrar
enlutar
o que em mim precisa morrer
para finamente
começar a viver?
eu não basto,
mas sirvo.
estou em todas
as alternativas anteriores
mas não sou prova de marcar
sou prova de comer
sou de comer mastigar morder arranhar defecar cuspir pisar em cima cuidar da ferida esperar sarar e quando estiver cicatrizando arrancar a casquinha futucar com a unha a parte mole e rosa da carne viva.
eu ainda me escondo
não é para fugir do outro
é para fugir de mim.
querer se fadar ao fracasso
só para corroer a expectativa do outro de sucesso para mim
você faz parecer tão fácil ser e estar
e eunuca
soube como parar de fugir.