poemas para quem amei

reflexões sobre a escrita

Gabi Blenda
2 min readDec 15, 2024

dizem que o ofício de escritora não depende de inspiração.

é igual trabalho banal, bater ponto diariamente, independente da vontade.

sinos soam como alarme capitalista.

a única escrita que fiz diariamente foram as páginas matinais, do Caminho da Artista.

fora isso, teve também a pandemia, onde escrevia um poema por dia, para ocupar a mente.

dizem que o ofício de escritora não pode depender de inspiração.

tem que comparecer todo dia.

diferente da visão trabalhista, a la pj ou clt, gosto da ideia de Elizabeth Gilbert, sobre comparecer e deixar que as palavras te guiem, para onde elas quiserem te levar.

tudo isso para concluir: tenho comparecido pouco.

ando tão atropelada pela vida — ou pela minha própria mente — que abandonei o único hábito que me fazia minimamente inteira. o lugar onde minhas faltas pareciam completas.

abandonei o hábito da escrita, enterrei meus cadernos debaixo da cama, vendi todos os livros. numa ânsia de lavar as mãos sujas de sangue e me livrar do odor do meu desejo.

eu só gostava de escrever, então perseguir a carreira de escrita parecia um rumo natural — leia cultural, socialmente planejado pelo sistema econômico que diz faça do que você ama a sua profissão.

eu só gostava de escrever; não de engajar, publicar todos os dias, gravar vídeos lendo meus escritos, fazer todos os cursos disponíveis sobre o assunto, pensar em projetos para editais, obras para concursos, criar newsletter, inventar podcast… eu só gostava de escrever.

até que parei. de escrever, não de gostar.

mas nada — nada — substitui estar apaixonada e escrever poesia para quem supostamente ama.

--

--

Gabi Blenda
Gabi Blenda

No responses yet