Poema para meu avô
Tinha o seu cheiro na almofada do sofá
no dia seguinte da sua morte.
Eu queria ficar ali agarrada naquele forro
que me trazia de volta o perfume de sua careca.
Mas colocaram a fronha pra lavar.
Eu deitava em seu colo exposto
pela falta de camisa
sem saber que aquele era o melhor momento da minha vida.
Não percebia que meu beijos
deixavam marcas de batom em seu rosto
e de saudades em meu coração.
Eu sinto sua falta.
Onde quer que estejas.
Era fácil ficar ao seu lado, só existindo,
apenas sendo sua neta.
Era mais fácil do que tudo,
do que qualquer outra coisa desta vida.
Eu não sabia que aqueles eram os melhores tempos
e não penso muito em sua falta
porque isso me faz chorar
lamentar pelo que um dia foi
e não será de volta
nunca mais.
Você dizia que o coração doía
e eu respondia “vai passar”.
Hoje sou eu quem preciso de coragem para continuar a vida.
Você nunca teve medo dela, insistia em enfrentar.
Por quê?
Por que queria tanto continuar?
Era por mim? Por nossa família?
Perdemos tudo aquilo.
Perdemos essa parte significativa e aguda que não me fazia chorar — na maioria das vezes.
Hoje tudo me leva à lágrimas.
Lembro de tudo:
do frasco de colônia antes de dormir,
da careta pra beber água
dos risos, das piadas.
Será que você teria orgulho de mim?
Não fui ao seu velório
porque eu
jamais
te enterraria.
Notas sobre o amor.
1) All we need is love.
2) If this is love, then love is easy. It’s the easiest thing to do.
3) Easy like sunday morning.