Plano B
Então, eu não vou fazer outro curso. Depois de me formar, não vou correr atrás do curso que desisti de fazer no vestibular e marquei o x na alternativa do lado.
Eu vou… Arranjar um emprego, sair da casa de meus pais. Mas isso seria uma obrigação e os últimos vinte e cinco anos provam que não funciono sob pressão. Então, não vou procurar um emprego. Não sorrirei numa entrevista, não fingirei ter uma autoestima saudável, não farei toda a performance de convencer alguém que sou produtiva, pontual e confiante das vantagens econômicas do capitalismo.
Eu vou continuar na casa de meus pais, onde sempre existe, apesar dessa ideia me provocar arrepios. Eu não tentarei o sucesso. Não tentarei zerar a vida. Eu posso fazer isso exatamente agora, para que esperar me formar? Posso fazer um trabalho voluntário, no meu bairro, pois não terei emprego e nem dinheiro pra pagar o ônibus.
Eu terei um diploma e poderei usar o papel pra limpar a bunda, quando o papel acabar. Isso seria um desperdício dos últimos cinco anos? Talvez. Talvez um mendigo encontre o diploma no lixo, limpe o papel sujo e conheça alguém que saiba falsificar assinatura, mude o nome no diploma para a do morador de rua ele ou ela consigam uma vaga numa empresa bacana. Eu deveria mesmo arriscar essa hipótese. Em vez de me entregar ao surto por eu estar me formando. Isto se eu consegui me formar. Se eu não precisar de uma dosagem mais forte do remédio que o psiquiatra me dá. Todo mundo diz que é só uma fase, mas na verdade ela dura a vida inteira.