Pernambués
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Dois rapazes descem a ladeira, carregando um saco de cimento nas costas. A pele coberta de poeira. A camisa encharcada de suor. Como se tivessem esquecido de torcer depois do enxágue e vestido antes de deixar secar no varal.
- Eu não sei o que tá contecendo, o saco que tá mais vazio ou eu que tô mais forte.
- É a gente que tá mais forte.
Ambos riem, com uma felicidade que parece genuína.
Eles sobem a ladeira para buscar mais cimento e num piscar de olhos já estão de volta, para outra leva. Magros e ágeis como um pernilongo.
Nenhum deles usa máscara. Nenhum deles parece ter mais de vinte anos.
- Venha cá, vei! Um saco de areia e eu te dou cem reais.
- …
- E aí vai?
O outro tira a camisa e começa a bater com o tecido, enrolado feito corda, no peito e nas costas. Como as benzedeiras fazem com as folhas.
- Oxe, tá de gozação é?
A vizinha canta “Tira ela de mim! Tira ela de mim! Beija minha boca que ela beijou…” enquanto o carro de som de um vereador divulga seu número com música de arrocha.