para que ter um órgão que só causa dor?
pensou em arrancar o útero, deitada na cama, com uma dor em nível 12, numa escala de 0 a 5.
pensou em arrancar o útero, sem querer saber de filhos.
pensou em arrancar o útero, pois o órgão vem com brinde desmaio e vômito.
pensou em arrancar o útero, sabendo que médicos não deixariam uma mulher solteira — no auge da juventude — decidir sobre o próprio corpo.
pensou em arrancar o útero, dando graças à deusa por ser home office, e poder sofrer na horizontalidade da cama, em vez de estar em pé no ônibus.
pensou em arrancar o útero, porque não conseguia ir à cozinha pegar uma maçã para comer meia banda.
pensou em arrancar o útero, porque um pedaço de melão a deixou enjoada.
pensou em arrancar o útero, porque nada ficava no estômago.
pensou em arrancar, porque o remédio especializado não cumpriu sua função.
pensou em arrancar, porque teve que pedir ajuda à mãe, à mulher que gritou na cara semana passada.
pensou em arrancar, porque enquanto gemia de dor também lembrava quando ficou pelada no chão do banheiro de um mercado, gemendo de dor pela mesma causa.
pensou em arrancar, porque enquanto gemia de dor também lembrava quando sentou no chão da cozinha da pensão abraçada com gelo. gemendo de dor pela mesma causa.
a ressonância magnética custa mais do que um salário mínimo.
pensou em arrancar o útero.
pensou em arrancar.
pensou.