não saiu um texto interessante
celebrar o ordinário
tem tempo que não escrevo. eu estava escrevendo há dois minutos atrás. mas tem tempo que não escrevo. não assim. não propositalmente. não com tentativa de um texto publicável. não com intenção poética.
ombros pesados. cortei calabresa em cima do pão onde passei extrato de tomate, meti no forno e chamei de pizza. me senti culpada por encher de linguiça barata do mercado da esquina o meu estômago e decidi voltar a caminhar. deja vu agora enquanto escrevo este texto e escuto uma música que não vou te contar. o gato dorme na prateleira. eu entrei numa site em busca de ideias criativas para executar. pensei em pintar alguma coisa. em fazer colagem. mas só sei cortar papeis com tesoura e guardar. eu gostava de enfiar agulhas na mão quando criança, na primeira camada fina de pele. nem sangrava. uma vez brincando com meu primo, ele enfiou a ponta de um lápis na minha mão e deixei lá. tenho até hoje esse pedaço cinza de grafite dentro de mim. talvez por isso que escrevo.
seria um bom fim, mas não acaba aqui esse texto. encontrei no ônibus o
ex-porteiro da escola. faz mais de dez anos que saí da escola. eu não sei onde foi parar esse tempo. minha mãe perto dos 60, eu perto dos 30, e ainda preciso pedir dinheiro a meu pai para comprar uma calcinha.
viver em busca do extraordinário tem sido irreal, inconcreto, impossível.