não fazer do desconforto minha morada

talvez a nossa vida
não seja definida
pelos acertos
mas pela sucessão de erros

ando tão acostumada com feridas
físicas e emocionais
que esqueço do espanto alheio
como se quem me olha e julga
também não fosse feito
de músculo e sangue
lágrima e cuspe

é mais fácil
condenar a humanidade no corpo do outro
do que encarar
a caverna infinita
da própria alma

fui atropelada
estilhaçada
esquartejada
por tantas vias
é visível que estou despedaçada

exercer o direito
de não querer viver uma vida
tão machucada

apesar de não ter muito jeito
quando se é material inflamável
qualquer deslize vira faísca e incêndio