não desejar mais nada, pra não correr perigo
Aug 16, 2024
me despeço das palavras
delas, que sempre fui tão íntima
me despeço, ainda que permaneça paralisada
sem ter por que levantar, pois não se sabe para onde ir
me despeço, como quem enterra debaixo da cama os monstros
como quem dorme de luto
por uma existência semi-vivida
não me sobraram nem mesmo elas, as palavras
me despeço e continuo sentada
com copo meio vazio, com isqueiro meio cheio
permaneço porque não sei para onde ir
eu já disse que não sei para onde ir?
meus diários, semi-abertos
enclausurados numa cova que acostumei a chamar de cama
eu não sei se saio viva dessa
ou se a dúvida é apenas para onde ir