não perturbe

Gabi Blenda
2 min readMay 30, 2020

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a forma do meu desejo é inconcreta
mas pode te acertar na cabeça, danificar teus miolos.
a forma do meu desejo me desaloja
me tira de mim
me põe no asfalto
faz eu sair de casa e vagar pelas ruas
sem pai nem mãe pra velar
sem irmãos sem família
forasteira mendiga.
a forma do meu desejo
é pra ficar acordada a noite toda
e continuar sem dormir de dia
num transe ausente de transa.
a forma do meu desejo espeta minha pele
esmaga meus neurônios
me faz desistir de mim
e é quando encontro as respostas
derramadas no fundo do poço
no chão da minha existência
eu vou encontrar respostas nas páginas molhadas pelo mar
vou virar criança
nascer de novo
voltar pro útero
me reduzir ao mínimo
e quando estiver esmagada
explodo
como um big bang
coisa alguma jamais te explicará sobre mim
sobre viver em carne viva
esfolada
sobre correr hectares com arames farpados no pescoço
sem ninguém pra ajudar
é a luta selvagem pela sobrevivência
é não querer ser abatida
e desejar a morte
soando como a batida dos sinos de Paris
eu estou no lugar certo, na hora exata
não existem erros
é tudo programado pra funcionar desfuncionalmente
eu vou casar com você
na próxima encarnação
daqui a oito anos
agora em minha imaginação
eu vou alimentar a fogueira do desejo
com a lenha da imaginação
e ficar acesa a noite toda
em chamas
teu nome
e aceitar a pequena morte do prazer
você tem espaço na minha estante
vou dissecar sua pele
pendurar a cabeça na parede
exibir a caça.
meu travesseiro é um celeiro
e eu fico viva quando adormeço.

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Gabi Blenda

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