mulher fruta
as forças que me atraem e repelem
sugam e cospem
mordem a polpa
escorrem o suco
palitam os fiapos
jaca mole presa na garganta
nem sobe nem desce
nem engole nem vomita
não faz de mim vísceras
pedra nos rins
problema intestinal
infecção bacteriana
vírus conhecido
um corpo estranho que me parece familiar
contamina a água
polui o ar
corrompe rios
ameaça magmas
erupção
me perco fácil
na construção da frase
já não sei se é minha ou sua esta palavra em minha língua
encaixes sutis que abalam placas tectônicas
já não há retorno
cada uma das portas de entrada
saídas de emergência
tocas de coelho
alices caídas
evas expulsas
todas as voltas desta encruzilhada levam ao mesmo caminho
agora não adianta mais correr
se esconder
todas as emboscadas
todas as envergaduras
todas as pistas e curvas
todas as cartas náuticas
todas as marés e oceanos
todos os incêndios
todas as florestas
todas as estradas de terra e lama
cada elemento da natureza
cada inseto em sua folha
cada desencaixe
tudo alinhavado
por agulha invisível
por pontos cardeais
por rotas de coalisão
amordaçada
e ainda escrevo
fotografo
danço
canto
acendo vela sob o edredon
invoco conjurações
erro conjugações
nunca mais estarei escondida
vou deixar você ficar aí
neste lugar onde está
porque já não há mais
nada a fazer
às vezes penso que era melhor a gente se separar
mas dividimos maçãs no éden pós moderno