Mas ainda não deu duas horas
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Era a tarde de um feriado.
Você tirou uma folga depois de muito tempo dedicado ao trabalho.
Alugamos um quarto no único hotel da cidade.
Resolvemos passar o fim de semana, antes de voltar à rotina.
Eu, que sempre fui tagarela, gostei de ficar escutando.
Sentamos num restaurante com mesa na rua, porque amo dias ensolarados.
Você colocou os óculos escuros pra disfarçar a cara amassada.
Pedimos algo pra comer e eu tentava fugir do assunto privilégio branco-patriarcado-capitalismo, achando que era muito cedo.
Você me contava sobre os livros que leu, supondo que me deixaria impressionada.
Mas estou pouco ligando pros clássicos.
Eu recriaria cada poesia só pra falar de amor — mas ainda é cedo pra isso também.