Mais uma noite

Gabi Blenda
1 min readMay 12, 2020

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Não precisa se esconder.
Tento me convencer com palavras de que me corpo pode existir sem medo.
Não precisa correr.
Mas os avisos falham,
dou de cara no chão, fico toda ralada.
As feridas abertas.
Que loucura é essa?
Ainda ouço os gritos do meu próprio choro
quando me vi nascer.
O lado de cá é confuso
mais do que teatro do absurdo.
Não tem livro que me explique o mundo.
Do alto da janela, avisto o povo vivendo,
sem medo de agruras.
Enfurnada em bibliotecas, fugindo do pior da vida.
Conhece mais o toque do papel
do que pele alheia.
Jurei ensinar o alfabeto a minha vó.
Não fiz.
Nem liguei pra ela no dia das mães. Depois do alzheimer ficou difícil conversar.
Ela não precisa mais das palavras
e isso é tudo o que tenho.
A distância não permite afagos.
É melhor pra ela eu ficar aqui longe.
Agora que estou trancafiada, penso demais em besteiras.
Quer dizer, besteiras eu sempre pensei. Mas agora não tenho a demora e o aperto do ônibus pra me distrair. Tentava me desafogar, esse tal de cotidiano, pra não mergulhar demais em mim.
Já não reclamo.
Quase não choro.
Mas passo noites insônes.

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Gabi Blenda
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