Literatura Online

Gabi Blenda
2 min readDec 4, 2024

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Trechos da Tese da Profª Drª Luciene Azevedo

Foto de Mari Potter na Unsplash

Deixando-se seduzir demasiadamente pelo sistema estimulante do entretenimento midiático, os autores estariam abrindo mão de uma disposição de ser contrários, abandonando a discussão sobre a literatura para se entregarem à luta pela visibilidade no mercado.

[…] uma tentativa de transigir com um público de
massa no contexto de uma avançada sociedade de consumo.

Ao eleger a leveza como um valor, Calvino afirma que os “exemplos da vida
contemporânea” só podem ser tangenciados de maneira desviante. E isso não implica nenhuma frivolidade, mas uma espécie de estratégia, de “visão indireta”, que cansou do enfrentamento com a angústia e agora pode rir inclusive dela. Qualquer texto hoje que leve muito a sério os dramas existenciais corre o risco de virar dramalhão.

O entendimento da literatura como uma forma contra-hegemônica é correlato da
constatação da sua posição apenas marginal em relação às esferas que dominam a vivência contemporânea, mas é justamente a partir do reconhecimento de que é possível fazer dessamarginalidade uma força que a literatura assume seu papel de resistência fundamentado na própria condição de diferença em relação à hegemonia.

“A resistência é uma prática de larga duração, de sobrevivência, que implica não-confrontação porque assume ser impossível disputar o poder”.*

Talvez o contemporâneo esteja exigindo novas estratégias capazes de desrecalcar micropoderes, reinventando a resistência que abandona definitivamente qualquer conotação engajada.

A constatação de que a literatura experimenta outras bases de legitimação social, diferenciando-se “em uma subcultura sui generis”, obriga-nos a pensar que novos sentidos ela pode ter no presente.

Assumindo a sua contingência, a literatura configura-se como uma zona de
resistência a contrapelo do ethos da globalização.

O presente parece se ocupar de estratégias que procuram reinventar o antagonismo, às vezes correndo o risco da ambivalência entre a cooptação feliz e a resistência impertinente.

Se aceitamos que “o problema é que não há lugar fora do mercado, do
neoliberalismo, da globalização”***, podemos nos dar conta de que é necessário reinventar as formas do antagonismo […].

Se não existem mais inimigos comuns, há um alvo fractalmente disperso: o mundo massificado da era do capitalismo pragmático.

a premissa de Idelber Avelar de que a memória ainda encarna

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***LUDMER, Josefina. “Mini-entrevista com Ludmer” por Flora Süssekind. Retirada do site da editora Aeroplano. Aerograma 26.

**SLOTERDIJK, P. Regras para o Parque Humano. Uma resposta à carta de Heidegger sobre o humanismo. Trad. José Oscar de Almeida Marques. S.P. Estação Liberdade, 2000, P.14.

* LUDMER, Josefina. “Mini-entrevista com Ludmer” por Flora Sussekind. Retirada do site da editora
Aeroplano. Aerograma 26.

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