legítima
Eu não sabia
O que eu estava falando
Ou onde estava me metendo
Quando falei
Qualquer coisa
À você
o que eu sei
é mais por curiosidade
que por certeza
é por insistir em descobrir
o que desconheço
e sempre há tanto
onde eu estive
vi a loucura
vi a melancolia
vi o martírio
vi o masoquismo
vi a solidão
vi o abandono
vi a dor
vi a morte
quero sair daqui
dizendo
vivi a Vida
sua energia
devoradora
consumidora
como os estados totalitários
deixa pó e cinza
brasa em chamas
cabeça de dragão
língua labaredas
lábios de fogo
não foi nem vendaval nem furacão
foi meteoro, vulcão em erupção
satélite do sol
que queima e arde
manter distância segura de lugares de fogo
porque em vez de oxigênio
só gerar carbono
colocando o amor neste lugar do impossível
da linha do horizonte
pra ver se move
igual cenoura na frente do burro
não vou gostar de cânones só porque são cânones
não vou brincar de não ser eu
de não servir
por não ter falo suficiente
por não ouvir mpb suficiente
chega de solos arenosos
só quero
a partir de agora
as medidas cabíveis
chegar de cruzar fronteiras
atravessar maremotos
pisar em lavas vulcânicas
e chamar isso de amor
chega de me plantar em solos pedregosos
impossíveis de germinar qualquer afeto
amar não é maratona
amor não é cruzada
eu faço arte com alma
não com intelectualidade
eu quero arte hemorrágica
onde vísceras são a matéria-prima
e não o cérebro
arte que seja colocar os bofes pra fora
arte que seja transfusão sanguínea
receba aqui um pouco de mim