Hoje acordei sentindo falta do mar

Uma luz dourada entra pela janela, que nem é minha.
Já não sei o que de fato pertence a mim
ou quais memórias são reais.

Hoje acordei sentindo falta do mar.

Em circunstâncias normais, eu receberia o céu azul como um convite pra ir na praia. Um convite que eu recusaria, por causa do trabalho que dá voltar pra casa toda grudada de areia e sal depois da água secar por uma hora e meia dentro do ônibus.

Em circunstâncias normais, eu usaria uma bobagem qualquer pra continuar dentro de casa, sem ver gente e interagir com a rua.

Ainda bem que aproveitei aquele carnaval.
Mas agora já não acho que aproveitei tanto assim.
Todas as minhas lembranças são um antes e depois.
O que mais trará essa pandemia?
Quantos leitos, quantas covas, quantas reflexões de sabor amargo.

Espero que nada volte ao normal. Não é como se estivesse tudo bem antes.

Você também está jurando fazer tudo diferente quando isto acabar?