Fight club

Gabi Blenda
1 min readDec 3, 2020

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Photo by Alecsander Alves on Unsplash

Eu saí de casa por uma caixa de chocolate. Pus a máscara, troquei a camisola por um vestido, peguei as chaves e o cartão. Já que não tem vacina, aceitei um chocolate. Quando saí de casa, encontrei o cachorro da vizinha mijando no portão. Ela chamou o nome dele, deu um sorrisinho e continuou com a vida. O portão da casa ficou lá mijado. Uma grande marca seca de urina.

Na volta, tomei o segundo banho. A médica da alergia recomendou trocar o sabonete. Agora uso um líquido hipoalérgico. A sensação é que não limpa. Hoje a axila ficou grudenta. Misturou o desodorante que passei de manhã com o sabonete líquido. Virou um sebo. Minha mão pegajosa. Por mais que esfregasse e a água do chuveiro caísse.

O sabonete líquido que ela passou, eu tive que comprar no shopping. O preço paga uns vinte do sabonete que vende no bairro. Mas eu tenho uma pele reativa. Meu corpo é igualzinho ao cérebro.

Enquanto ela explicava sobre a alergia, eu tentava manter a lágrima dentro da pálpebra. Parecia que ela estava falando não só da pele. Usava palavras como “descontrolado”, “precisamos desinflamar”, “uma reação muito intensa”.

-Você tem alguma doença?
- Não. Só na cabeça.

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