E nada como um tempo após um contratempo
Texto 6 de 15 do Desafio de escrita para a quarentena, lançado por Stefani Del Rio. Se quiser participar: clique aqui!
6º dia — Um mini conto baseado em uma letra de música
Não escrevi um texto para o desafio de hoje. Ao tentar escolher uma letra de música, foi inevitável pensar em Chico, Caetano, Vandré e outros artistas que enfrentaram tempos de crise. Artistas que traduziram a emoção do fim dos tempos.
Antes, resistir era sair às ruas, ficar parado em frente a um taque de guerra. Hoje, resistir é ficar em casa e aceitar a ciência. Mas nem todo mundo pode ficar em casa. E quem pode bate panela pros outros saírem. Quem explicará no futuro o que vivemos?
Enquanto não temos canções sobre nossa atual distopia, relembro as palavras de quem viveu tempos ruins e sobreviveu pra contar à História.
Clique no título pra ouvir a música. 🔊
1968 — Alegria, Alegria
O sol nas bancas de revista
Me enche de alegria e preguiça
Quem lê tanta notícia
1968 — Tropicália
Eu organizo o movimento
Eu oriento o carnaval
Eu inauguro o monumento
No planalto central do país […]
Domingo é o fino-da-bossa
Segunda-feira está na fossa
Terça-feira vai à roça
Porém […]
1970 — Sinal Fechado
Olá, como vai
Eu vou indo e você tudo bem
Tudo bem eu vou indo […]
Precisamos nos ver por aí
Pra semana prometo talvez nos vejamos
Quem sabe
Quanto tempo pois é
Quanto tempo […]
1971 — Construção
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
1973 — Eu quero é botar meu bloco na rua
Eu, por mim, queria isso e aquilo
Um quilo mais daquilo, um grilo menos disso
É disso que eu preciso ou não é nada disso
Eu quero é todo mundo nesse carnaval
Eu quero é botar meu bloco na rua
Brincar, botar pra gemer
1973 — Ouro de tolo
E você ainda acredita que é um doutor, padre ou policial
Que está contribuindo com sua parte
Para nosso belo quadro social
Eu é que não me sento no trono de um apartamento
Com a boca escancarada, cheia de dentes
Esperando a morte chegar
1976 — O Que Será (À Flor da Pele)
O que será que me dá
Que todos os meus nervos estão a rogar
Que todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz implorar
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo, nem nunca terá
1976 — Como nossos pais
Não quero lhe falar meu grande amor
Das coisas que aprendi nos discos
Quero lhe contar como eu vivi
E tudo o que aconteceu comigo […]
Por isso cuidado meu bem
Há perigo na esquina […]
1978 — Apesar de Você
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai ter que ver
A manhã renascer
E esbanjar poesia
1978 — Cálice
Talvez o mundo não seja pequeno
Nem seja a vida um fato consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno
1979 — O bêbado e o equilibrista
Chora a nossa pátria, mãe gentil
Choram Marias e Clarices no solo do Brasil
Mas sei, que uma dor assim pungente
Não há de ser inutilmente, a esperança
Dança na corda bamba de sombrinha
E em cada passo dessa linha pode se machucar
Azar, a esperança equilibrista
Sabe que o show de todo artista tem que continuar
1979 — Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores
Pelos campos ha fome em grandes plantações
Pelas ruas marchando indecisos cordoes
Ainda fazem da flor seu mais forte refrão
E acreditam nas flores vencendo o canhão
1979 — Rosa de Hiroshima
Pensem nas crianças
Mudas, Telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas, inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas, Alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
1991 — Teatro dos vampiros
Os assassinos estão livres, nós não estamos
Vamos sair, mas não temos mais dinheiro
Os meus amigos todos estão procurando emprego
Voltamos a viver como há dez anos atrás
E a cada hora que passa, envelhecemos dez semanas
1997 — Diário de Um Detento
Tirei um dia a menos ou um dia a mais, sei lá
Tanto faz, os dias são iguais
Acendo um cigarro, e vejo o dia passar
Mato o tempo pra ele não me matar […]
Tic, tac, ainda é 9 e 40
O relógio da cadeia anda em câmera lenta […]
Hoje tá difícil, não saiu o Sol
Hoje não tem visita, não tem futebol
1999 — O país é culpado
Somos senhores das favelas
Somos senhores da pobreza
Falta alimento em nossas mesas
Somos senhores das calçadas
Somos senhores das sinaleiras
Superlotamos as penitenciárias
Somos os analfabetos
Orgulhosos, indiscretos
Grandessíssimos idiotas
Conclusão, o país é culpado
2002 — A carne mais barata do mercado é a carne negra
Que vai de graça pro presídio
E para debaixo do plástico
Que vai de graça pro subemprego
E pros hospitais psiquiátricos
A carne mais barata do mercado é a carne negra
Que fez e faz história pra caralho
Segurando esse país no braço, meu irmão
O gado aqui não se sente revoltado
2015 — Maria da Vila Matilde
Cadê meu celular?
Eu vou ligar pro 180
Vou entregar teu nome
E explicar meu endereço
Aqui você não entra mais
Eu digo que não te conheço […]
Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim
2015 — Mulher do fim do mundo
A minha casa, minha solidão
Joguei do alto do terceiro andar
Quebrei a cara e me livrei do resto dessa vida […]
Mulher do fim do mundo
Eu sou e vou até o fim cantar
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