deveríamos herdar a casa de nossas avós
pretérito imperfeito
o piso de madeira, hoje é de cimento.
a escada onde eu brincava com meu primo e nos perguntávamos o que faziam os famosos que não tiravam meleca com os dedos.
a escada de madeira, corroída pelo cupim, com buracos falhos, onde desviávamos o pé.
o pé que subia pra laje e brincava por horas de futebol e teatrinho.
primos, hoje adultos, moram em diferentes continentes.
ninguém está bem de vida.
ninguém compra pizza pra janta todos os sábados, como nos prometíamos.
o mercado grande da cidade, que sonhávamos fazer as compras, hoje também não mais existe.
foi reformado, vendido, apropriado por outra marca, maior ainda.
adultos têm mania de grandeza.
enquanto crescia, sonhava com os aviões que passavam por cima de sua cabeça na varanda, à noite.
hoje não tenho mais o avô que liga 18h, para it tomar com ele o café na hora da janta.
morremos, todos os dias, um cadinho.
a avó viva hoje não lembra o próprio nome.
na lista de itens para se orgulhar no ano novo, sobrou pouca coisa, quase nada.
e quais os planos? nenhum, além da torcida.