(des)match

Gabi Blenda
1 min readNov 15, 2019

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não leve pro pessoal, eu também fico carente. você, não? eu só existo quando ninguém repara. eu só respiro se não tiver mais gente na sala, dividindo o oxigênio. não compartilho gás carbônico. a lista de negativos é extensa. isso garante meu futuro na terapia. eu ainda vou precisar de muitos anos e é provável continuar quebrada. quem dera fosse fácil, como o conserto de um osso: demorou semanas, várias faixas de gaze e um quilo de gesso. tomei leite que era pra ser de um bezerro e nem sou vegana pra estar preocupada com essas coisas.

eu existo quando ninguém está olhando. cantando sozinha na minha mente.

é mais confortável quando ninguém nota. aí eu fico torcendo por dentro que alguém na multidão insana do metrô descanse a vista nos meus olhos. e eu nem sou romântica, tenho evitado com sucesso qualquer demonstração de afeto. talvez por isso demore mais anos de consulta. funciona bem, até o dia que precisa de conserto. nessas horas não tem atadura. é andar por aí com a fratura exposta, desejando “bom dia”, “com licença”, “até amanhã”, como se não tivesse sangrando o fluido invisível da solidão.

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Gabi Blenda
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