como pode peixe vivo, viver fora de água viva…

Gabi Blenda
1 min readMar 8, 2023

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nunca mais você foi honesto comigo
sei e sinto
repito
sei e sinto
isto não é indireta
é só um poema vagabundo
meia boca
igual a você
igual a mim
te testo para saber
quantas vezes você vai deixar
eu ser quem eu sou
gata noturna
animal selvagem
pássaro livre
que entra e sai
da casa
do ninho
porque preciso ir
porque quero voltar
e viver nesta gangorra
de brincar ou brigar
ainda adulta
a criança em mim
precisa brincar de gangorra
porque não sabe
nunca saberá
se estará sozinha
ficará
acabará
sozinha
na gangorra
olhando para os lados
da praça
sem ninguém para conversar
para falar a língua
e ficar para sempre muda
para sempre amuada
para sempre calada
para sempre ranzinza
porque eu não devia ter
entrado
subido
na maldita gangorra
a criança em mim
precisa saber
quantas vezes você vai…
serei uma elke maravilha
desconhecida
de Pernambués
acabarei sendo
a louca da rua
que levanta a sobrancelha
para estranhos que atravessam o caminho
acabarei sendo
a avó sem memória
a tia perversa
a mãe doentia
a mulher perdida atormentada
então não me atrevo
não me permito te amar
para não acabar como as ancestrais da minha família
ainda que toda noite
eu peço à deusa
para te apagar de meu coração
só tem duas coisas que eu realmente queria
nesta vida
criar minha própria língua
te abraçar com minhas pernas enquanto dormia

como poderei viver
como poderei viver
sem a tua
sem a tua
sem a tua companhia

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Gabi Blenda
Gabi Blenda

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