Como as coisas mudam rápido numa noite
Era pra ser uma noite clichê e romântica, com luzes apagadas no salão de festa, um globo prateado girando acima de nossas cabeças, enquanto dançamos uma música lenta. Mas as palavras “vestido plissado não combina com gorda” não saiam da minha cabeça. Eu já nem lembro quem disse isso. A vendedora da loja? A consultora que dá dicas de moda na tv? A influencer que postou uma foto desse mesmo vestido cujo caimento tão perfeito em seu corpo magro me fez pensar automaticamente esse vestido não é pra mim.
Eu queria ter direito a uma noite clichê e romântica. Mas todos sabem, garotos não convidam meninas como eu pra sair. E me acostumei a isso, sabe? Ser a colega da turma que não tinha beijado, a única menina da sala sem um namorado. Eu ficava ouvindo as histórias e nunca pensava besteiras como um dia isso também vai acontecer comigo. Então comecei a usar a imaginação, música, livro, filme — uau, que garota inteligente! É o que sobra pras que não são sexys. Valente é o que sobra pra quem não tem a opção de se acovardar. Ou sobrevive ou continua enfiando objetos pontiagudos na pele. Chega uma hora que não há mais sangue pra jorrar. Eu quis para de me ferir antes disso.
Era pra ser uma noite clichê e romântica, mas eu só pensava nas minhas tentativas de suicídio.
Texto 5 de 15 do Desafio de escrita para a quarentena, lançado por Stefani Del Rio. Se quiser participar: clique aqui!
5º dia — Escreva uma cena clichê com personagens que fujam do padrão
