Coisas que você não sabe sobre mim

Engraçado isso que você falou, pra mim é o oposto. Talvez porque eu leia suas palavras de trás pra frente.

Ao contrário do que parece, eu sei bem o que não quero. Considero isso meio caminho andado. Na verdade, eu também sei exatamente o que quero. Mas isso não me faz completar o caminho.

Apesar do palhaço ter me contado que a vida não é sobre chegada, mas sobre ida, ida, ida — o que me lembra uma música de Caetano.

Eu não estou parada, mas estou no meio do caminho. Na coxia, aguardando a deixa pra minha entrada. Esperando a minha senha aparecer no guichê.

Não existe isso de peguei o número errado, cheguei atrasada, as fichas acabaram. Todo mundo que chega recebe uma senha. É que às vezes o atendimento demora.

É muita gente, eu entendo. Sou o tipo compreensiva, mas impaciente. Tenho dor no cóccix e não aguento ficar muito tempo sentada. Aí cedo lugar para uma idosa que pratica mais atividade física do que eu, hidroginástica três vezes na semana e refeição balanceada com granola.

Ontem eu comi dois pacotes de biscoito recheado e chorei de madrugada. Ninguém precisa saber disso. Diferente daquela moça que está contando toda a história de vida, desde quando era um embrião. Sempre tem um tagarela na fila.

Às vezes tenho medo de perder o controle e enlouquecer. De gritar algo inconveniente. Pensamento que me ocorre em momentos como este. Ou em reuniões de trabalho. Imagina xingar o chefe na frente de todo mundo. Vou ficar com a reputação de doida varrida. Nem é pra isso que bruxas usam a vassoura.