brigadeiro queimado

a verdade pessimista

sonhou que finalmente tinha um teto todo seu.
seu, não dos avós, dos pais, do namorado.
sonhou que finalmente tinha um teto todo seu, mas era só um quarto.
com janelas, duas camas e muito espaço para ocupar com todo o seu vazio.
finalmente um teto todo seu para o seu (grande) vazio.
sonhou que pegava um ônibus para ir embora, mas nem chegou na rodoviária.
nem chegou na esquina, porque o cartão estava sem crédito pra passagem.
sonhou que tinha que voltar pra casa que não queria.
acordou e viu que estava na casa que não queria.

poema nenhum traduz a dor da vida
o choro no chão do banheiro
o nariz escorrendo

eis aqui uma boa notícia:
e eu me pergunto
boa notícia pra quem?

deixou passar os anos
esperando algum trocado pra dar garantia
e os anos viraram três décadas

eu sei que não se resolve angústia na hora que grita o sintoma

um passo pra frente
um passo pra trás
me dá a sensação
de que não me movo

de que não resolvo
esta ferida aberta
que abre e fecha
abre e fecha
abre e fecha

a gente nunca termina de cicatrizar da vida
a gente apenas acostuma com a dor
acende um cigarro
bebe um álcool
engole um açúcar

a gente apenas fortalece o abdômen
empurra com a barriga
a gente apenas sufoca, achando que respira

a verdade é que não resolvo os meus problemas
quem dirá os do mundo