And I play on repeat
Uma outra eu, dois anos atrás
Eu fazia várias coisas na infância e apenas uma delas era ir pra biblioteca no intervalo. Eu também batia massa de bolo e metia o dedo dentro, jogava vôlei com papel amassado como bola no quarto do meu primo. Brincava de imaginar escola e loja. Na adolescência lia fanfics, ouvia música no mp3 rosa, ficava na escola ensaiando apresentação com o teatro amador, gostava de equação do segundo grau e de História. Trabalhei vendendo plano de telefone e roupa. Brinquei de gostar de moda até estudar semiótica. Ouvi (e ainda ouço) gritos e berros de meu pai. Mas também risos por filmes idiotas na tv que eu resolvo ignorar. Ignorei os abraços no ano novo e no natal. Apaguei da memória as brincadeiras de lobo mau. E de fazer da minha barriga um piano pra me provocar cócegas. Ocultei os cds e fitas com conto de fadas que aguçavam minha imaginação. As conversas com minha avó. Os cheiros na careca de meu avô. O dia que minha mãe feriu a perna caindo em cima do lixo e eu ri e chorei de nervoso. Os natais em que não ganhava presente. O ano novo em que tinha que ficar acordada esperando dar meia noite. As compras do retorno às aulas, em que um ano o caderno era rosa, no outro preto. Ignorei as carteiras da escola em que sentei por anos da minha vida, das conversas com as colegas que eu já nem sei quais tinha. Apaguei, ocultei, esqueci, ignorei tudo isso. O pânico de passar no vestibular. A tristeza de ver
Eu deveria ter terminado esse texto, enquanto podia. Termine os seus, enquanto há vida. Não desperdicemos a chance de fazer amor e poesia.