amor não basta
“Às vezes você me pergunta
Por que é que eu sou tão calado
Não falo de amor quase nada
Nem fico sorrindo ao seu lado”
escorrendo água
feito cano quebrado
já não é choro nem lágrima
é maré cheia enchente
que sai de meu corpo
o que me consola é que nos amamos
o que me desola é que nos amamos
eu nunca tinha entendido
a f(r)ase
amor não basta
agora tenho a dimensão de tudo o que não sei
o saldo de um mês e dois dias
café almoço janta ronco gozo tapa
na cara e no chão
e ainda foi pouco
foi tudo intenso e pouco
foi uma chama rala
que não soubemos abastecer
você e eu
ambos com desculpa no cartório
não há certo e errado
só muita complicação
não há amor e ódio
só um animal fugindo da extinção
o que me consola é que nos amamos
o que me desola é que não soubemos nos amar
o meu poema mais fraco, mais ralo
que nem leite
o meu amor vazio
minha emoção sem base
minha estrutura abatida
o meu campo minado
minha lei subvertida
minha água incessante
o teu sangue coagulado
um caminho não trilhado
um grão morto sem germinar
sol sem pele pra vitaminar
lágrima sem mão pra secar
grama pisada
ventre sem encaixe
beijo sem tabaco
qualquer outro motivo pra te ver na manhã seguinte
depois do adeus
depois de conclamar por tempo
depois de reivindicar espaço
depois de fincar a bandeira de daqui não passe
eu sussurro chega um pouco mais
foi pouco
o que nos restou
o dinheiro que não sobrou
o amor que não vingou
um romance que não deu certo
entre todos os amores perdidos
o nosso é o meu favorito
um adeus entalado na garganta
que nem com farinha desce
uma hora a correnteza dos olhos cessa
depois da colisão, os planetas se ajeitam
a gravidade dá um jeito
“Você me tem todo o dia
Mas não sabe se é bom ou ruim
Mas saiba que eu estou em você
Mas você (não) está em mim(?)”