amor cênico
logo eu, que me orgulhava de ser uma mulher não-fálica, me apaixonei por um cara que goste de picas mais do que eu. e eu nem gosto tanto assim de picas. prefiro bucetas, clitóris, vibradores, orgasmos múltiplos e big bangs ao alcance das minhas mãos. que loucura! eu fiz a virilha por um gay. logo eu, que prefiro arbustos, vegetação natural, fauna e flora, animais silvestres.
eu queria sentar numa mesa de bar e não beber só pra te dizer sobre o meu fetiche por vozes e que culpa eu tenho do seu domínio vocal ser tão excitante. meia década de análise e eu ainda não sei dizer se essa é uma questão com meu pai, se essa é uma questão com minha mãe.
eu me senti uma tola por te oferecer o meu livro favorito. mas depois compreendi que o amor não é exclusividade do romantismo. eu posso amar você e admirar você como artista e amigo. sem mais bater punhetas de madrugada pensando em tua barba.
esquece isso tudo o que eu disse e presta bem atenção agora (sussurrando): eu invejo a tua liberdade.
eu que sempre fui tão comportadinha, tão engaioladazinha, bicho preso em cativeiro, tão enjaulada, tão encoleirada. praticamente um pet da minha família. animal de estimação, castrada. trocando meus instintos, minha prole por casa, comida, roupa lavada, água dentro de um pote.
o teatro. o sexo. a liberdade. minha santíssima trindade. Baco vive em meus quadris, em meu ventre libidinal. ainda que você não queira provar o meu gozo. você foi o meu erro mais gostoso.
p.s.: pelo visto, sempre escreverei post scriptum pra você. espero um dia quebrar o teto e a parede e o chão e as janelas e os móveis e a cama e as impressões de vidro e conseguir brincar com você, feito criança.