9º dia — Um texto em que o personagem principal não seja humano
A vida útil de um fone de ouvido é curtíssima. Os desumanos nos usam como se não tivéssemos emoção. Sim, nós temos sentimentos! A beleza da música chega aos seus ouvidos como? Através de nós, oras! E vocês nem nos dão valor. Somos nós que ativamos as sinapses do cérebro, através das ondas mecânicas. Dá um trabalhão! Aposto que vocês nem lembram desse assunto da aula de Física. Se lembrassem, nos tratavam como mais delicadeza, em vez de nos jogarem embolados dentro da mochila. Depois ainda reclamam quando um dos lados não funciona. É brincadeira? Sabia que não existe vida após à morte pros fones de ouvido? Já pensou nas consequências de uma rebelião da nossa categoria? Todos vocês ficariam enforcados! Mas já me contaram da nova tecnologia de fones (pros mais ricos, é óbvio, porque vocês humanos não são unidos como a classe dos fios) que ficam pendurados na orelha, como se fossem cotonete sujo. Por causa disso, reduziram metade do nosso pagamento. Como fazem isso conosco? Escutamos suas músicas de corno, calados, sem contar pra nenhum dos seus amigos. Não se faça de desentendido, eu sei que você escuta! Os humanos estão resumidos em uma única palavra: ingratos.
Texto 9 de 15 do Desafio de escrita para a quarentena, lançado por Stefani Del Rio. Se quiser participar: clique aqui!